quarta-feira, 18 de abril de 2007


AMAZONIA À 40 KM DA PRAÇA DA SÉ

O futuro pode ser conhecido pelo que fazemos agora e aqui na Amazônia Paulistana. A grande Amazônia é um símbolo e um desafio da capacidade do homem administrar de forma sustentável um patrimônio natural. Por isso ela está na agenda global, e isso se deve a sua importância na rede de sustentação da vida, está inserida no circuito global com múltiplos significados
E a Amazônia Paulistana está a menos de 40 Km da Praça da Sé? Essa Amazônia é um enclave regional com um peculiar perfil, com certas características de periferia da metrópole e traços amazônicos. Destaca-se do conjunto das 31 regiões do município de São Paulo e pouco conhecida da grande maioria dos paulistanos, trata-se dos distritos de Parelheiros e Marsilac geridos pela Subprefeitura de Parelheiros representando 353 KM quadrados, um quarto do território da capital paulista.
É uma reserva com condições naturais que ainda propicia a manutenção dos mananciais que produzem 30% da água utilizada pela metrópole. Abrigando fragmento da Mata Atlântica, constitui-se em um patrimônio ambiental que evidentemente, guardada as devidas proporções, pode ser assemelhado no nível microrregional a um sistema social e natural com potencial, virtudes, problemas e perspectivas parecidas com as encontradas na Amazônia.A semelhança da Amazônia Paulistana com a grande Amazônia vai mais além. É de certa forma uma amostra do Brasil. Seu enorme patrimônio de riqueza natural abriga uma população com os mais elevados índices de pobreza. Na Amazônia Paulistana temos: uma baixa densidade demográfica (menos de 8% por KM) e a maior taxa de transferência demográfica desde outras regiões da cidade (8.5% ao ano). Reforça seu perfil a presença de duas aldeias indígenas; convivendo com a Mata Atlântica, Parelheiros abriga 5% de mata exótica (pinus e eucalipto). Uma economia de minérios expressa nas Minas de Caulim e Areia. Tem a maior rede hídrica do município, enorme potencial de aqüicultura e potencialidade de cobrança de compensação pela produção de água, na esteira de Lei de Cobrança da Água e está inserida em três bacias hidrográficas do município. Esta Amazônia tem estrutura fundiária, tal como a outra Amazônia, a do norte, ambígua, com pouca transparência dificultando a defesa o manejo e uso do solo de forma adequada, permitindo e facilitando a grilagem. Outra semelhança com regiões de expansão de fronteiras é a frágil presença do Estado. Embora uma diversidade de órgãos, diretrizes, normas e planos superpostos intervenham na região, terminam por provocar paralisia das iniciativas construtivas. As diversas modalidades de ocupação, invasões, posse irregular e predatória, sem respeito ao patrimônio natural e ambiental que pode ser fonte de trabalho e vida no imediato e no futuro. Na “Amazônia Paulistana”, o poder público, emaranhado em normas superpostas, ambíguas e até contrapostas fica paralisado frente ao avanço da irresponsabilidade para com as gerações presentes e futuras. Na Amazônia se propõe um freio ao avanço do desmatamento, “nas regiões de proteção aos mananciais, da Amazônia Paulistana, se propõe o freio à ocupação com “invasão zero”. Como na Amazônia, em Parelheiros a abertura de vias, extensão do transporte, instalação de equipamentos públicos empurram a fronteira da ocupação irregular. Também emergem debates e conflitos de interesses desde o ápice até a base da pirâmide social, como a questão da passagem do RODOANEL, uma espécie de “transamazônica local”. Os grandes capitais e o comercio reivindicam “alça de acesso” e os das nossas duas Aldeias Guarani exigem a ampliação do seu território. À essa Amazônia Paulistana não falta, também, a mais importante ferrovia do Estado que atravessa seu território transportando a riqueza agrícola do interior paulista para o Porto de Santos.
A Amazônia Paulistana não tem cidades perdidas, ou lenda do El Dourado, mas carrega também, uma aura de mistério. É um portal de espiritualidade.Ali existe a maior concentração de equipamentos espirituais ou sede de grupos de filosofias espiritualistas do município de São Paulo. Começando pelo Solo Sagrado da Igreja Messiânica a espaços do Santo Daime, passando por grupos ufologistas. Circulam na região teses que afirmam ser a Cratera de Colônia, que resultou da queda de um corpo celeste a cerca de 34 milhões de anos, um ponto de densidade magnética e passagem de discos voadores.A Amazônia Paulistana com suas duas represas enormes, com áreas amplas e verdes, com temperaturas médias abaixo das registradas no resto do município tem enorme vantagem competitiva em relação à grande Amazônia para construir uma economia sustentável de novo tipo. Está próxima de um grande mercado consumidor e pode se transformar em uma região de investimentos em lazer, esportes e recreação, gerando um turismo sustentável, para a maior metrópole da América Latina. Uma metrópole cuja população foge desesperada em busca de recreação e lazer a razão de 1700 000 (um milhão e setecentos mil) veículos no carnaval de 2007 e a cada feriado prolongado. Para isso é necessário superar o “modelo clássico” de gestão publica na metrópole. Superar a tendência de solução parcial das necessidades vitais e imediatas que se sobrepõem e dificultam visualizar as necessidades vitais estratégicas, tanto da população residente como do habitante da metrópole. Essa perspectiva coloca na agenda um enorme potencial de investimentos imobiliários de alto nível o qual além de estabilizar a região de mananciais gerará postos de trabalho de manutenção e serviços para a atual população residente, desde que cresça a taxa razoável de 1.6% ao ano. Este quadro exige plano integrado e uma mobilização ampla que sensibilize a opinião publica e os atores com poder na sociedade paulistana para uma efetiva estabilização da ocupação e expansão populacional sobre os mananciais.Nesse quadro é que se desenha um modelo de desenvolvimento de novo tipo, de uma nova economia em região de proteção aos mananciais, manejo racional das florestas exóticas já existentes e outros recursos naturais ainda inexplorados com outra racionalidade. Não se pode esquecer-se das negociações de compensações e mitigações com o conjunto da metrópole. Contudo, o desafio imediato é superar os obstáculos que freiam o potencial tanto da Amazônia Paulistana, como da Amazônia do norte, a carência de uma nova cultura (no sentido do cultivo das relações homem meio ambiente), de uma educação adequada, de qualificação e projetos de desenvolvimento ajustados a esta peculiar realidade. Portanto, sem o desenvolvimento de uma consciência, de uma prática e exercício da defesa da Amazônia Paulistana certamente se torna difícil o paulistano visualizar a defesa da Amazônia brasileira no norte. SALVEMOS agora a Amazônia que está aqui.


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